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Agosto Dourado

O mês de agosto é dedicado a promoção e incentivo ao aleitamento materno no Brasil
e no mundo. A iniciativa promovida pela OMS e a UNICEF deu origem a Semana Mundial do
Aleitamento, que no Brasil é promovida como Agosto Dourado, em referência ao padrão ouro
que é atribuído ao leite materno como alimento para crianças de até seis meses. Esse ano a
campanha traz como slogan: “Incentive o aleitamento para um planeta saudável”.
Ora, se dissermos a uma mãe que ela tem a opção de alimentar seu filho com um
superalimento, que contém todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento e
crescimento saudáveis, reforça o sistema imune, se adapta as necessidades nutricionais e
imunológicas do bebê, não requer nenhuma tecnologia complexa pra ser produzido, não
precisa ser complementado com nenhum outro tipo de alimento ou mesmo água, e está
totalmente disponível sem custo algum, imagino que a maioria das mães não pensaria duas
vezes. Acontece que amamentar não é tão simples quanto parece e só quem já passou pelo
puerpério sabe o quanto é difícil adaptar-se a essa nova rotina. São noites e dias em claro,
parece que o leite não é suficiente, o bebê quase não dorme e não sai do peito, dor nas
mamas, bicos feridos, chora o bebê, chora a mãe e por aí vai… São muitos os medos, dores,
receios e preocupações que passam pela cabeça de uma mulher apenas pelo fato de ter que
cuidar, acalentar e aleitar uma criaturinha absolutamente dependente, e tudo isso por si só, já
torna o aleitamento um grande desafio pra quem o escolhe. Porém pouco se fala sobre as
mulheres que sequer tem direito ou meios de exercer essa escolha. Começemos pela mãe que
trabalha sem vínculo empregatício ou por algum regime que flexibiliza as leis de trabalho. Essa
mulher não tem a garantia de licença amamentação por quatro meses como é previsto. Ela
precisa voltar ao trabalho muito antes disso ou corre o risco de perder o emprego. E a mãe que
é autônoma, trabalha na rua, vende algum produto ou serviço como fonte de renda? Essa
nunca parou e nem poderá parar de trabalhar por um mês sequer. Tem também a mãe que
ganhou uma bomba tira leite, doada pela filha da patroa e vai poder tirar seu leite e deixar pro
bebê enquanto estiver trabalhando. O problema é que ela precisa acordar as 4:30h da manhã
pra estar no trabalho que fica a duas horas e três conduções de distância, chega em casa
exausta e se prepara pra dormir mal e amanhã começar tudo de novo. Tirar leite com a bomba
vai ter que ficar pra outra hora. Tem ainda a mãe que não trabalha ou recebeu seu direito a
licença amamentação mas tem três outras crianças pra cuidar, seu marido está desempregado,
anda bebendo demais e ultimamente começou a bater nela e nas crianças . E o que dizer sobre
a mãe que está em situação de privação de liberdade, vivenciando esse momento do
puerpério e início da amamentação em um ambiente naturalmente hostil, insalubre, sem
apoio, onde todos os olhares que se voltam a ela são para julgar e condenar e dificilmente
acolher?
Eu poderia aqui descrever muitos outros casos semelhantes e em todos faço as
mesmas perguntas, para as quais me faltam respostas: essas mulheres têm escolha? Que
meios elas têm de oferecer o melhor alimento a seus bebês? Como pensar em
sustentabilidade se muitas mães ainda não têm garantido o direito básico de amamentar?
Amamentar é pra quem?
Quanto a última pergunta, encerro deixando uma provocação: entrem no instagram,
busquem pela hashtag #agostodourado e tirem suas próprias conclusões sobre o perfil das
mulheres que em sua maioria ilustram essa campanha, a começar pela cor da pele.

Por: Danielle Menezes

Este post tem um comentário

  1. Maria Priscila de Jesus

    Excelente texto!

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