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CHEGA

          Lembro da primeira vez que fui chamada de “BOMBRIL”, era o filho da minha professora que eu amava tanto por ser tão linda, loira dos olhos verdes. Comecei a chorar, chorei muito até me acostumar com o “BOMBRIL, BOMBRIL, BOMBRIL…”.  A mãe dele ouvia e pedia para ele parar, nunca foi levado a secretaria e muito menos suspenso, eu que era chorona, chorava por qualquer coisa. Não contava para minha mãe porque meu cabelo era “Bombril mesmo” o que iria adiantar? Então cortei minhas longas tranças e alisei o cabelo. 

         O tempo passou, meu cabelo mudou, e um belo dia eu vi o Daniel passando pela rua, fui me encolhendo, atravessei a calçada e encostada no muro comecei a chorar, e aí eu descobri que meu “mimimi” “o choro sem motivo” era o pavor que eu tinha daquele indivíduo e tudo que ele representava.

          O que era “uma brincadeira” me fez ficar sozinha durante vários recreios aos sussurros de “BOMBRIL”. Frases metafóricas cheias de inferências, que falam da sua cor do seu cabelo, são frases racistas e é crime, não devemos dar continuidade em 2020, a essas desigualdades, que só existem pelo fato de ainda existirem pessoas que acham não ter problema fazer piadas racistas.

          Ainda hoje nos campos jogadores profissionais são ofendidos racialmente, mas muitas dessas ofensas começam nos vestiários, nas resenhas entre amigos, nas bases, onde para fazer parte do grupo os ofendidos riem, aceitam, fingem que não entenderam, não querem ser “vitimizados”. E isso é triste! É crime!

         Ainda penso no Daniel, mas enfrento-o com meu cabelo. Aprendi que rosa não é cor de pele, se ando de preto não estou pelada, meu lábios não são de tamanco e tem outras frases mais ridículas que todos conhecem e já deveriam ter aprendido que não são legais, não são brincadeiras e nem coisas entre a gente…

Por: Renata França, Pedagoga da Vila Olímpica de Deodoro, Professora, Artesã e Mãe do Breno

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