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Dia internacional contra LGBTIFOBIA – 17 de maio

No dia 17.

Estamos no meio de uma pandemia, onde nossos olhos e nossas lutas concentram-se no bem- estar e saúde de nossos corpos e nossas mentes, dos nossos entes e nossas pessoas queridas. Por muitos anos, a sociedade não vivia em pandemia, mas viveu o que considero como sumiço social, marginalizando e olhando para nós – gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e Transgêneros – como portadores de uma doença, sendo classificadas por um código.

Este código carregava toda a carga do preconceito – 302.0 – passando a ser uma forma de indicação do motivo pelo qual uma pessoa vinha a uma consulta ou causa pelo qual estaria em atendimento medico. Em 2004 a nova Classificação do Código Internacional de Doenças, nos retira esse fardo histórico de doença e nos dá no dia 17 de Maio a possibilidade efetiva de iniciarmos a luta contra a homofobia, lesbofobia, transfobia e bifobia como uma pauta de direitos diretos.

Esta pauta é constante e mistura-se com frentes que ainda batalham diariamente pelo seu reconhecimento total, como o feminismo e a luta de classes. Ser LGBTI+ é nascer guerreiro por essência, por história, por amar e necessitar fazer o mundo entender o porquê do seu amor. Não deveria ser assim! Deveríamos nascer e viver sem que haja necessidade de assumirmos nada, ou ser penalizados por não ter o comportamento visto de uma forma mais aceitável por ser o padrão estabelecido. A partir de todos estes estigmas que são colocados e de um padrão conservador muito forte introduzido no Brasil e no mundo, muitas pessoas poderiam e estariam lutando pelos direitos da população LGBTI+ e seriam mais abertos ao discurso, e quem sabe compreendendo a sexualidade delas e dos demais, pois, são plurais podendo também se identificar com a causa.

Eu acredito que não é somente com legislação que mudamos nosso mundo, apesar de ser importante legislar para adequar, mudarmos e naturalizar tudo, e não há nada mais crível que permitir uma pessoa de estar no corpo que deseja olhar e amar quem quer voltar para sua casa e ser recebida pela sua família pelo seu caráter e não pelo gênero, forma, roupa e corpo que carrega em si.

Precisamos agradecer a cada pessoa que sustentou sua essência e fez tudo mudar. Que se permitiu mudar o corte de cabelo, o jeito de andar, recolocou em seu corpo, o molde perfeito que precisava para se olhar! É nessa pessoa que a luta se mostra viva e intensa, se faz continua e necessária.

Eu luto diariamente há 10 anos, desde que me despi para encorpar um ser que sempre fui. Hoje vejo que lutei pouco, que devo mais aos meus, que minha comemoração é muito singular, sendo advogada da área criminal, tenho por obrigação que olhar este dia 17 como reinício sempre… da luta! Pois, dentro de um sistema social e penitenciário que ainda trata minhas iguais sem respeitar seus nomes sociais, suas identidades de gênero, sofrem violências e preconceitos primitivos. Que adoecem devido à manutenção da barbárie. Que permanecem como pessoas detentoras de uma doença e que são “cuidadas” por servidores que fazem a manutenção da tortura, dos maus tratos.

Enquanto não se legisla de modo coerente na defesa dos interesses desta parcela da sociedade, continuaremos, sob a égide da fragilidade das decisões.

Eu comemoro a luta. Mas não festejo nada. Porque enquanto tiver um LGBTI+, morrendo, sendo estuprado, violentado, molestado e espancado só por ele existir. Não há festejo, só existe a luta.

Que sejamos dia 17, por 365 dias do ano, de toda a nossa existência. Por todos e com todos em qualquer situação a qual estejam, seja na rua ou em cárcere. Porque livre mesmo só os pássaros.

Por: Lucilene Gomes

Este post tem um comentário

  1. Maria Priscila

    Texto excelente!

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